segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O Ego das Sombras (Capítulo 1)

Pesadelos

Era escuro e já passava de meia noite. Natássia encontrava-se sozinha sentada em um banco de cimento na Praça da Matriz. Ela tratava-se de uma bela mulher, jovem, cabelos ruivos, físico magro, olhos verdes piscina que entravam em sintonia com sua pele alva. De cabeça baixa e pensamento distante, ela reprimia as lágrimas o máximo para que não escorressem pela sua fina face.
Mas algo a tirou de seu transe, passos ao longe foram ouvidos. Imediatamente Natássia percorreu o olhar ao seu redor em busca da origem daquele ruído. Certificou-se de que estava sozinha e a seguir resolveu se retirar daquele local. Mas algo fez com que ela se paralisasse e sentir o sangue congelar.
- Natássia- uma voz rouca e fria ecoou pelo ambiente.
Natássia sentiu os pelos de sua nuca eriçar e um frio percorreu-lhe a espinha. Decidiu então se fugir daquele lugar o mais rápido possível e em passadas ligeiras acelerava o mais distante possível daquela voz.
- Você não pode fugir de mim, Natássia. Vou encontrar você em qualquer lugar. – Declarou a voz misteriosa deixando a garota ruiva mais nervosa do que já se encontrava.
Natássia virou-se e confirmou que estava mesmo sozinha, talvez estivesse escutando coisas ou estaria enlouquecendo. Não se sabe ao certo, mas aquilo parecia muito real, a voz parecia penetrar em suas entranhas e quanto mais tentava apressar o passo e correr, suas pernas pareciam ganhar peso. Sentia que não conseguia mais se movimentar, o processo de paralisação agora estaria completo. Foi quando ela percebeu de fato quem estava em sua frente encarando-a firmemente.
Um indivíduo trajava uma capa preta longa e suja. A altura de seu perseguidor devia ser de dois metros e meio. Por trás da capa preta ele poderia ter um aspecto físico musculoso ou não, pois a vestimenta escondia esses detalhes. Esses detalhes não eram importantes para Natássia, ela estava em completo êxtase hipnotizado pelo fogo dos olhos vermelhos do misterioso encapuzado na sua gente.
Por trás das sombras de seu rosto, aquela chama escarlate era tão atraente e ao mesmo tempo perigosa para se admirar. Pois parecia que ela poderia ser consumida a qualquer momento por aqueles olhos.
Nas mãos o perseguidor carregava uma espada de lâmina longa que por sinal se encontrava suja de sangue. Com uma investida cruel e sem chances de defesa, o individuo encapuzado enfiou a espada no ventre macio de Natássia. Jorrando por todo o corpo da bela jovem um liquido escarlate. Em seus olhos verdes que antes se encontravam vivos e de cor intensa, agora eram preenchidos pelo vazio da morte.

♦♦♦

Com um grito assustador, a bela ruiva acordou com o corpo tremendo constantemente e com sua camisola ensopada de suor proveniente do pesadelo com que acabara de ter. Com selvageria, os pais de Natássia adentraram seu quarto imaginando no pior possível. Mas o que eles encontraram foi apenas uma garotinha assustada derretendo-se em lágrimas.
- O que houve Natássia?- perguntou Linda, mãe de Natássia. Era uma mulher tão bonita quanto à filha, jovem e corpo perfeito. Linda usava óculos e seus cabelos também eram ruivos e macios quanto os da filha.
- Apenas um sonho mãe. - Sussurrou Natássia ainda assustada e com os olhos lacrimejando.
- Pelo visto foi mais do que um sonho para você estar desse jeito. - disse a mãe de Natássia limpando com as mãos o suor que escorria da testa da menina.
- Foi apenas um pesadelo mãe. Uma coisa estranha apareceu na praça e me enfiou uma espada no peito. - disse a adolescente assustada deixando mais lágrimas escorrerem pelo rosto pálido.
O pai de Natássia observava pacientemente o nervosismo da filha e ao mesmo tempo guardava a apreensão para si. Não queria demonstrar fraqueza para sua filha. Ela necessitava muito de seu apoio naquele instante e não era viável mostrar o quanto também se encontrava assustado.
- Mãe eu já estou melhor, está tudo bem agora. - afirmou Natássia.
-Tem certeza?-perguntou seu pai.
- Tenho. Vou ficar bem pai.
Os pais de Natássia então se retiraram e fecharam a porta do quarto. A bela voltou a mergulhar nas cobertas de sua cama e temerosamente fechou os olhos. Teve medo de que o pesadelo pudesse voltar para atormentá-la, mas pelo contrário dessa vez ela tivera um sonho romântico com um rapaz belo e misterioso.
Não fazia idéia de quem fosse o protagonista de seu sonho, mas não queria acordar tão cedo. Tudo agora parecia ser maravilhoso para ela e sem perceber o sonho evaporara e ela já via mais nada. Nem sonho ou pesadelo, encontrava-se totalmente em um estado de hibernação.

♦♦♦

Na manhã seguinte, Natássia encontrava em um estado rejuvenescido, não lembrava mais do pesadelo que tivera. Em sua mente estava presente apenas o semblante misterioso de um rapaz que ela nunca viu na vida. Mesmo sabendo que sonhos bons são maravilhosos e bons para a auto-estima, ela decidiu não se iludir com coisas irreais.
Já bastava todo o sofrimento que ela já passara em sua vida e um trauma que sofrera na infância, ela não desejava mergulhar numa busca por um homem que conhecera em seu sonho.
Era muita loucura para uma pessoa só e mesmo que esse rapaz existisse nada garante que ele estivesse perto dela ou que pudesse correspondê-la. Além do sonho emocionante, ela também não conseguia apagar da sua os detalhes do rosto esculpido dele e nem da formosura do seu corpo.
Presa em seus pensamentos, Natássia nem percebeu que seu ônibus já chegara à escola. Ainda em transe ela desceu os degraus do veiculo e dirigiu-se para sua sala apressadamente. De longe percebeu os grupinhos da escola que nunca suportou como os populares como Alexandre Freitas. O rapaz mais popular do Centro Educacional Santa Martha. Alexandre tratava-se de um rapaz de pele branca, cabelos loiros e olhos castanhos. Com um físico musculoso, a razão da popularidade de Alexandre era devido a seu sucesso como o maior jogador do time da escola.
Natássia nunca gostou de Alexandre, seus pais sempre foram muito amigos e desde criança ela o conhece, mas sempre achou Alexandre egoísta demais. Sempre desconfiou dos olhares do rapaz para ela. Como sempre ela o ignorava, nunca imaginou aquele garoto esnobe como um namorado ou algo mais sério.
Sabia que se um dia caísse no papo de garotos como Alexandre acabaria sendo magoada e não queria mais traumas na sua vida, quanto mais ter que sofrer de amor por alguém que nãos e importava nem um pingo pelos seus sentimentos.
Enquanto Natássia passava pelo pátio e se distanciava do grupo onde Alexandre se encontrava, viu alguém se aproximar e cruzar o seu caminho. Sentiu o chão sob os seus pés desaparecer e de repente um frio percorreu pela sua espinha. Ao encarar o semblante ela teve certeza de que raramente os sonhos se tornam realidades.
Ele tratava-se de um garoto alto, mais ou menos um metro e oitenta de altura. Sua pele era morena, os cabelos eram lisos e negros, alcançavam o ombro de tão longos. Os olhos eram negros e totalmente convidativos. O sorriso era brilhante e alvo, o nariz fino e o rosto levemente esculpido. De fato aquele garoto era uma cópia perfeita do homem com quem sonhara na noite passada.
Natássia se recusava a acreditar que aquilo estava acontecendo, seu maior desejo teria de fato se materializado e agora estava ali na sua gente disponível para ser atacado. Ela tinha certeza de que aquele garoto era o mesmo que aparecera em seu sonho. Porém como isso teria acontecido?
A bela estudante não sabia como responder aquela pergunta. O motivo de aquele garoto ter surgido na sua vida ainda era um mistério, mesmo assim ela lutaria para descobrir quem ele seria ou se essa recente aparição mudaria algo na sua vida.
De repente uma voz histérica tirou Natássia de seu momento de reflexão e ao perceber de quem era a voz ela abriu um largo sorriso e virou-se para abraçar sua amiga Elisangela.
Elisangela tratava-se de uma moça bonita, de corpo invejável para qualquer adolescente, cabelos negros e ondulados. Seus olhos eram castanhos escuros e sua pele era branca, mas um pouco mais corada do que Natássia. Era conhecida como a menina mais “oferecida” da escola. Por esse motivo não tinha muitas amigas, desde criança era amiga de Natássia e a bela ruiva nunca se importou pelo comportamento fútil de Elisangela.
Natássia ainda encarava o menino de cabelos negros, que agora se distanciava das meninas e já não passava de um borrão na multidão do corredor da escola. Percebendo o olhar perdido da amiga Elisangela disse com empolgação:
- Dimitri. -sussurrou Elisangela com um tom provocante.
- O que você disse?- questionou Natássia sem entender o que a amiga dizia.
- O garoto de cabelos negros. Dimitri Gonçalves. Chegou a poucos dias na cidade.
- Veio de onde?- perguntou Natássia com certo interesse.
- Não sei. Ele está morando em um apartamento alugado perto da casa de Alexandre.
- Como você sabe dessas coisas Lisa? O rapaz mal chegou e você já está de olho?
- Não seja maldosa Tássia. Quem ouve você falando assim vai pensar que sou o quê?
Natássia se perdeu no próprio sorriso após ouvir a insanidade proferida pela amiga. Ela sabia que Elisangela não estava a fim de Dimitri, pois se estivesse já o teria fisgado. Sua amiga teria percebido a maneira que Natássia olhara para o novato e estava querendo tirar uma confissão dela.
- Mas me diga você está interessada no gatinho novo?- questionou Elisangela.
- Claro que não Lisa. Mal o conheço quanto mais me interessar por ele. Logo esse rapaz que não se sabe de onde veio e quais são suas verdadeiras intenções aqui na cidade. - tentou disfarçar Natássia.
- Tudo bem. Vou acreditar em você. Se mudar de idéia você me chama.
- Para quê? Acha que não me garanto para conquistar alguém sozinha?- perguntou Natássia com um tom safado.
Elisangela gargalhou sozinha e a seguir puxou a amiga pelo braço e juntas se dirigiram para a sala de aula. Antes de entrar na sala disse para Natássia:
- Só estava brincando, sei muito bem que você é capaz de ser atraente para um homem. Já que você é minha amiga, não espero nada menos do que isso de você ta?
Mais uma vez as duas amigas se perderam em suas risadas e seguiram para a sala de aula.

♦♦♦

No final do horário de aula, Natássia se dirigia para ir para casa. Tratava-se de um final de tarde muito bonito na cidade de Santa Martha. Ela acompanhou Elisangela até a porta da escola onde viu a amiga entrar no carro do pai e a seguir ir para casa. Iria para casa a pé, não era muito longe dali e sempre gostava de caminhar e para ela aquele dia estava muito agradável.
Enquanto caminhava mais uma vez se encontrou perdida em seus pensamentos, tratava-se do último ano escolar de Natássia. Em breve ela teria que fazer o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) se quisesse entrar em universidade e cursar seu tão sonhado curso de medicina e salvar vidas que era seu maior desejo desde criança.
Viajando em seus objetivos, nem percebeu que estava sendo seguida até ouvir passos atrás. Imediatamente o pesadelo da noite anterior reaparecera em sua mente para atormentá-la. Será que assim como o sonho aquele pesadelo se materializaria?

Continua...

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