No conto anterior nossa heroína
Natássia correu para o centro da cidade para descobrir qual tragédia havia
acontecido. Deparou-se com um incêndio no prédio de seu amigo Júnior que
possivelmente seria o causador devido a seu histórico de tentativas de suicídio
desde que eles eram crianças. Em meio ao alvoroço e pânico Natássia reconheceu
Dimitri no meio da multidão e ele não pareceu nada amigável.
CAPÍTULO
4
OLHARES
VAZIOS
Natássia permanecia paralisada perante olhar
gélido que Dimitri transmitia para ela. Definitivamente aquele não era o rapaz
de olhar doce e sorriso fraterno que tocou seu coração. Seus olhos eram frios e
seu corpo estava rígido, Natássia estava de corpo arrepiado e a dor no seu
peito esquerdo se intensificava cada vez mais. Quase sem forças ela abriu os
lábios e tentou falar o mais alto que pudesse.
─ Dimitri!
Como um simples passo de mágica o rapaz
revirou os olhos e o tom suave voltou a estampar seu rosto, ele parecia
perdido, tonto e fraco. A dor que Natássia sentia sumiu e ela pode se mexer e
com medo ela tentava se afastar. Pois ela estava com medo de Dimitri, com medo
de que aquilo estava acontecendo com ele pudesse voltar. Mas quando ela se
afastava sentiu uma mão pegar no seu braço e apertar forte. A seguir ouviu uma
voz familiar chamar seu nome:
─ Natássia espere, por favor.
─ O que você quer? ─ ela se ouviu sendo
grossa com aquele rapaz belo que a assustou.
─ Está tudo bem com você? – perguntou
Dimitri com aquela voz suave que fazia ela se derreter.
─ Não Dimitri, não está nada bem. Meu
amigo está naquele prédio preso tentando se matar e matou várias pessoas com
essa loucura e eu te vejo aqui todo estranho no meio da rua com um olhar
estranho. Não parecia você Dimitri!
─ Eu não estava bem, estava tão
assustado com esse incêndio. Os cadáveres que eu devo ter perdido a noção,
estava nas nuvens. Só acordei quando te ouvi me gritar. Desculpa!
─ Está desculpado, mas eu tenho uma
dúvida Dimitri. Como você chegou aqui tão rápido sendo que você está morando do
outro lado da cidade?
─ Eu cheguei agora a pouco, depois que
vi a movimentações de viaturas e ambulâncias. Vim correndo com o sentido de
ajudar se fosse preciso.
─ Tudo bem então, eu também vim para cá
com essa intenção. Vamos então nos aproximar talvez os bombeiros estejam
precisando de voluntários.
Os dois adolescentes fora andando em
direção do incêndio que agora já estava controlado e segundo s bombeiros e
policiais, não havia mais pessoas em perigo e que todos que foram resgatados
foram encaminhados para o Hospital Municipal de Santa Martha.
Eles ajudavam junto de outros
voluntários na retirada dos destroços e na ajuda aos familiares das vítimas que
queriam notícias. Os dois não paravam de trocar olhares um para outro, era
difícil de assumir, mas Natássia estava sim atraída por Dimitri e era estranho,
pois não fazia ideia de quem ele era ou sua historia.
♦♦♦
Sua cabeça não parava de doer, seu corpo
estava todo dolorido e sentia as queimaduras os membros ensanguentados. Sua
cabeça também doía muito e ele ao acordar viu seus pais na cabeceira de seu
leito com uma expressão séria e preocupada. Ele estava vivo, Júnior tinha
sobrevivido a mais uma tentativa de suicídio. Não sabia por que teria tentado
mais uma vez sendo que há quase um ano ele não recorria mais a isso. Depois de
suas sessões com o terapeuta estava mais conformado e superando aos poucos suas
dores e o trauma de infância que o fizera ficar assim.
Mas nos últimos dias ele estava mais
estranho do que de costume. A voz que o atormentou durante toda sua infância
voltou com força total e iria continuar a atormentá-lo até ele conseguir
realizar o suicídio. Mas ele não conseguira, a voz sumira. O porquê ele não
entendia, pois a voz tinha voltado junto com o grande medo que ele sente, ele
iria por um fim em tudo isso. Ele iria pôr um fim nas fofoquinhas dos vizinhos,
nas brincadeiras idiotas na escola. Ele já era um garoto obeso, depressivo e
ainda por cima era o mais inteligente da sala. Apesar de ser tão voltado aos
estudos saberia que jamais completaria vinte anos de idade, ele iria morrer
antes de entrar na faculdade e ele iria conseguir isso, só não sabia como, mas
ele iria conseguir.
Preso nos seus pensamentos e com seus
ferimentos lhe causando uma dor insuportável ele ouve de seus pais a gravidade
do que ele fizera. Eles contaram da quantidade de vítimas, das crianças que
morreram, e que ele será internado em uma clinica especializada.
Ele não poderá mais permanecer em Santa
Martha depois do que fizera, ele estava sendo expulso de sua cidade mesmo nunca
ter sentido se pertencia a ele ou não. Ele não faz questão, apenas chora e diz
aos seus pais que sente muito.
Mas Júnior não imaginava que seus atos
causariam um estrago colossal. Ele só queria morrer, e sem saber que em breve
seu maior sonho de morrer seria realizado.
♦♦♦
Natássia se encontrava na calçada de sua
casa conversando com Dimitri. Ele estava mais relaxado, voltara a sorrir da
maneira como ela o conheceu. Talvez aquilo tudo que ela viu não passou de uma
ilusão ou de pura impressão dela, por um minuto ela não sabia o que pensar
quando viu Dimitri daquele jeito. Tão estranho, tão sombrio, tão nefasto.
O que importava é que agora eles estavam
sorrindo e se divertindo. Mas as pessoas sempre dizem que as coisas boas são
passageiras. De repente quatro pessoas apareceram na porta da casa de Natássia,
ela achou muito estranho que depois de tantos anos aquelas pessoas aparecerem
ali principalmente porque a maioria delas não é próxima de Natássia exceto
Elisangela, sua melhor amiga e confidente desde criança.
─ Natássia, precisamos conversar apenas
nós cinco. E o assunto você sabe muito bem qual é!
CONTINUA...